Tuareg


Uma jornada em nome da honra e da tradição, através das dificuldades e das maravilhas do deserto do Saara. O romancista espanhol Alberto Vázquez-Figueroa, utiliza-se de sua experiência adquirida no Saara e em suas viagens para escrever um “épico” sobre os Tuaregs, povo seminômade habitante do deserto.
Uso o termo “épico” entre aspas porque Tuareg não chega a ser um de fato, mas tem muitos elementos que o caracterizariam como. A trama simples não chama a atenção e os personagens não possuem carisma suficiente para ganhar o interesse do leitor, a própria retratação dos tuaregs é superficial, com um ou outro costume abordado, é porém na exploração da paisagem e que 'Tuareg' ganha o leitor, onde somos conduzidos de forma magistral por Vázquez-Figueroa a desbravar o Saara.
Na trama, o tuareg Gacel Sayad decide dar hospedagem à dois viajantes fugitivos, como regem os costumes de seu povo, porém a honra de Gacel é violada quando seus hóspedes são interceptados por soldados do exército.  Agora a única opção que resta à Gacel é partir numa jornada em nome da honra, com intuito de limpar seu nome desmoralizado pelos soldados e finalizar sua promessa de hospitalidade.
O que aparenta a princípio ser uma história simples, dá lugar à uma jornada épica através da vida e dos costumes do Saara. O deserto descrito por Alberto Vázquez-Figueroa é tão vivido que eclipsa a jornada do próprio protagonista, o autor evoca com maestria a paisagem desértica, assinalando todos os detalhes envolvendo o calor e a rotina cotidiana da luta pela sobrevivência. Tuareg é uma viagem pelas diferentes paisagens do deserto, verdadeiros “mundos mágicos” quando comparados com a nossa realidade e narra a adaptação ao ambiente hostil e o cotidiano dos viajantes. Mesmo que de forma simplória, a jornada de Gacel também traz sua filosofia e divagações sobre a existência. Não fica evidente quão fiel o livro é à cultura dos Tuaregs, mas ele consegue expor o ponto de vista do povo selvagem em relação aos problemas sociais e a globalização, um choque entre duas culturas completamente distintas, que vai desde as divagações sobre os estrangeiros que invadem o deserto sem respeitar as suas “leis” até as conjecturas sobre o que seriam aquelas estrelas ambulantes que cortam o céu toda noite, o livro te leva a encarar a vida sob os olhos de um outro povo.
No todo, Tuareg é uma clássica história de ação e aventura, poderia muito bem ser um capítulo de algum Indiana Jones ou Uncharted, com direito a segredos escondidos nas dunas escaldantes e até a presença de uma "caravana lendária perdida", mas o que se sobressai na obra é a ambientação, que faz jus ao cenário e revela um pouco da história de um dos vários povos isolados do mundo.
Assim como os oceanos, os desertos sempre me atraíram, ambos são em certa medida a contraparte um do outro, imponentes e inóspitos. A vastidão agreste dos desertos mantém afastada a civilização mas ainda assim vidas inteiras passam por ali. Livros como este (deixo como exemplo também 'Os Sete Pilares da Sabedoria' do famigerado T. E. Lawrence) conseguem captar um pouco dessa essência e apresentar um mundo quase que fantástico do qual não temos conhecimento e desempenham bem uma das principais funções da literatura: levar o leitor em viagem pelos recônditos exóticos do mundo! 

Comentários